"Os vinhos do Pico e o perigo do glifosato” - Direito de Resposta

Ao abrigo dos artigos 24º, 25º e 26º da Lei de Imprensa os abaixo-assinados solicitaram à Editora do Suplemento Fugas do Jornal Público a publicação do seguinte texto ao abrigo do Direito de Resposta e de Retificação, na sequência do artigo de opinião assinado por Pedro Garcias, no suplemento “Fugas”, do jornal Público no dia 07/07/2018 com o título: “Os vinhos do Pico e o perigo do glifosato”.

DIREITO DE RESPOSTA PARA PUBLICAÇÃO:

“No seguimento do artigo intitulado “Os Vinhos do Pico e o Perigo do Glifosato” publicado no suplemento Fugas, de 7 de julho de 2018, da autoria de Pedro Garcias, vimos por este meio responder, mostrar a nossa indignação e exigir a reposição da verdade.

No vosso artigo, o título associa o “vinho do Pico” ao “Perigo do glifosato”. Não existe qualquer investigação científica que estabeleça uma relação entre a utilização de glifosato e a contaminação do vinho. É falso o alarme despoletado pelo título do artigo e é grave enganar o consumidor transmitindo a ideia, errada, de que o consumo do “vinho do Pico” poderá, de alguma forma, ser prejudicial à saúde.

A ilha do Pico tem o maior parque natural dos Açores e 33% da sua área é protegida (156 km2). Na zona marítima, 79 km2 são de proteção marinha. A Paisagem da Cultura da Vinha do Pico é classificada pela UNESCO como Património da Humanidade. Estes factos são, por si só, determinantes na relação política e cultural que a ilha do Pico mantém com todas as temáticas relativas ao ambiente.

Relativamente ao vinho e à vinha, que ocupa uma pequena parcela do território, o Pico é uma Denominação de Origem controlada. O que significa que todos os vinhos aqui produzidos são avaliados e analisados para posterior certificação através de uma entidade técnica e cientificamente competente. Numa paisagem única em que as vinhas são plantadas nas fendas das rochas junto ao mar, as vinhas estão todas sob o regime de “proteção integrada de acordo a Lei n.º 26/2013 de 11 de abril. As Vinhas do Pico, como referimos, são classificadas como Património da Humanidade desde 2004. É uma das (apenas) 14 regiões do mundo com esta chancela da UNESCO.

Os mais de 300 viticultores representam um total de quase 1.000 hectares de vinhas (10 km2), dos quais cerca de 700 hectares foram recuperados nos últimos 4 anos, num esforço de recuperação de uma cultura e uma indústria com uma História de mais de 500 anos. As vinhas do Pico não são mecanizadas. Todo o trabalho é manual. As vinhas do Pico são, por esta razão, das que menos emissões poluentes fazem no planeta. São, também, umas das vinhas que, no mundo, requerem mais mão-de-obra, contribuindo para a fixação das populações rurais e distribuindo riqueza.

A associação feita pelo artigo entre o Vinho do Pico e o Perigo do Glifosato configura, para além de uma falsidade, uma difamação, pois associa, de forma exclusiva, aquele produto aos vinhos do Pico. Damos nota que, apesar do artigo referir que também existe glifosato noutras vinhas em território nacional, nunca faz associação ao vinho, nem nomeia outras regiões.

O dano causado pela associação exclusiva de “Vinho do Pico” a “Perigo do Glifosato”, é incomensurável. A difamação contida nesta associação prejudica, de forma irreparável, toda a indústria dos vinhos do Pico e mancha a reputação de toda uma Região. A afirmação pode configurar, ainda, uma “viciação da concorrência”. Por estes motivos, impõe-se a reposição imediata e cabal da verdade, esclarecendo os leitores sobre a realidade dos factos.

Existe perigo de saúde de Glifosato nos vinhos do Pico? Os vinhos do Pico têm mais perigo para a saúde do que outras regiões?

A resposta é, taxativamente, NÃO a ambas as questões! As vinhas do Pico estão todas sob o regime de “proteção integrada” e os vinhos do Pico são todos analisados e certificados pela Comissão Vitivinícola Regional dos Açores, não havendo qualquer risco para a saúde associado a glifosato ou a qualquer outro herbicida.

Os herbicidas são utilizados de forma consciente e controlada. Consciente porque os aplicadores frequentaram ações de formação específicas onde aprenderam os perigos que os herbicidas implicam para a saúde pública e a forma correta de os dosear e aplicar. Controlada porque a venda de produtos químicos está vedada ao público em geral e porque os agricultores têm de manter registo dos produtos utilizados.

Afirma ainda o artigo que “Não deve haver vinhas mais químicas que as do Pico”. Entende-se que esta grave acusação é falsa e configura de novo uma difamação e “viciação da concorrência”.

Note-se em primeiro lugar que as vinhas do Pico têm a particularidade de serem rasteiras, para proteção do vento, cobrindo o solo. Sabendo que todos os herbicidas são aplicados no chão, percebemos que não se pode aplicar glifosato praticamente todo o ano. Poder-se-ia eventualmente no Inverno quando não há folhas. Ora, no Inverno enquanto a maioria de Portugal continental está a aplicar glifosato, no Pico não se aplica porque é desaconselhado, porque não faz frio suficiente para a planta fazer uma verdadeira dormência (seria um risco muito elevado para a sobrevivência das plantas). Por esta razão, entre outras, a maioria dos produtores de vinho abandonaram o glifosato.

Acrescentamos que, nas vinhas do Pico, a impossibilidade de utilização de tratores obriga a que qualquer aplicação de produtos seja manual, de pulverizador às costas. Esta é uma aplicação muito mais precisa, apenas feita sobre o que se quer tratar e não sobre a totalidade do terreno, ao contrário do que acontece na generalidade das vinhas em território nacional, que são mecanizadas.

O artigo não refere qualquer dado comparativo entre países ou entre regiões portuguesas para sustentar as suas conclusões. Damos nota aqui de um dado comparativo importante: numa vinha em espaldar, que é a norma em Portugal continental, um trator consegue aplicar num dia herbicidas entre 7 a 10 hectares de vinha. No Pico, como tudo tem que ser aplicado por “alguém com um pulverizador às costas”, um homem consegue tratar apenas 0,3 hectares de vinha por dia, isto é, um trator aplica cerca de 23 a 33 vezes mais do que o homem do Pico.

Pergunta-se então se se aplica mais glifosato nas vinhas do Pico que noutras regiões de Portugal?

Não! Aplica-se menos glifosato nas vinhas do Pico do que na generalidade das vinhas em Portugal. Em terceiro lugar, o artigo afirma que “Os Picarotos parecem viciados em herbicidas”. Neste caso, configura efetivamente uma opinião, mas não deixamos de registar que procura apenas denegrir de forma generalizada a população de uma ilha. Ao contrário do que dá a entender a mensagem do artigo, o mais recente estudo da Universidade dos Açores, comprova que os Açores, de entre as ilhas da Macaronésia, são a Região que tem a menor utilização de produtos fitofarmacêuticos na agricultura.

O artigo refere ainda, em tom de conclusão, que “Haverá sempre quem beba sem se preocupar em saber o percurso do vinho até chegar ao copo, mas quem se dispõe a pagar um preço alto por uma garrafa de vinho — e os vinhos do Pico são obrigatoriamente caros — quer saber um pouco mais sobre o que vai beber. Esse consumidor não está apenas a comprar vinho, está também a comprar uma experiência, um bem cultural, um testemunho de uma paisagem e de um povo. Regar tudo isto com glifosato não é uma boa ideia.”

O artigo conclui, portanto, que os vinhos do Pico, apesar da sua cultura e valor, são regados de herbicidas, colando de novo o vinho do Pico ao glifosato. São afirmações graves, infundadas que difamam toda uma região e que provocam danos incalculáveis a toda a indústria de vinhos dos Açores.

A utilização dos herbicidas em geral e do glifosato em particular só é nociva para a saúde humana quando se verifica a sua acumulação nos solos e nos lençóis de água em valores superiores aos parâmetros considerados aceitáveis e determinados pelas instituições científicas e legislativas. Segundo os últimos estudos científicos realizados, os solos dos Açores apresentam índices de contaminação mínimos quando comparados com a regulamentação, sendo inferiores a outras regiões. De acordo com os relatórios da ERSARA, a água fornecida à população dos Açores é de boa qualidade e, apesar das centenas de análise efetuadas anualmente, nunca o perigo de contaminação por herbicidas foi, sequer, referida. Acresce que todas as análises efetuadas às zonas balneares dos Açores indicam que a qualidade da água é excelente.

É caso para perguntar onde se meteram os glifosatos?

Concluímos afirmando, com orgulho, que as ilhas dos Açores são, realmente, certificadas pela Natureza!

 

Os Abaixo-Assinados:

CVR AÇORES / ADEGA A BURACA / AZORES WINE COMPANY / CANCELA DO PORCO/ COOPERATIVA VITIVINÍCOLA DA ILHA DO PICO / CURRAL ATLANTIS / VINHOS CZAR “